"Um país se faz com homens e livros"[Monteiro Lobato]

"Um país se faz com homens e livros"[Monteiro Lobato]

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Inês de Castro

A História de amor entre uma Plebéia e um Príncipe...
... Que nem a morte foi capaz de apagar.
Inês - aquela que foi coroada rainha depois de morta!











sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dica Importante!


Queridos alunos,


Os livros desse Bimestre são:

1ano: O Romanceiro da Inconfidência - Cecília Meireles

2ano: Dom Casmurro - Machado de Assis

3ano: Obras Literárias da UFG/2011


Vocês devem adquirir as obras, pois haverá uma avaliação com consulta no final desse mês!!!


Não precisam comprar um livro novo, procurem em bancas de revistas ou em "sebos"ou acessem pelo site http://www.dominiopublico.gov.br/ (é uma biblioteca virtual). Imprimam, quem optar por essa última sugestão.

Ler é muito importante!!! Vocês com certeza só tem a crescer através da degustação de bons livros...


Recadinhos para o 3ano: Lembrem-se dos seminários das obras literárias...

Além da expressão oral da análise literária, devem entregar aos colegas um material impresso contendo resumo da obra.O Valor desse trabalho é 10,0... Portanto, façam com capricho, ok?


Um Abraço,

Professora Sarah Bertolli.

domingo, 27 de junho de 2010

O que é Bullying?


O que é bullying?


Atos agressivos físicos ou verbais só são evitados com a união de diretores, professores, alunos e famílias


Renata Costa (Editora da Revista Nova Escola/ 2010)


Bullying é uma situação que se caracteriza por atos agressivos verbais ou físicos de maneira repetitiva por parte de um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo inglês refere-se ao verbo "ameaçar, intimidar".
Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas. E, não adianta, todo ambiente escolar pode ter esse problema. "A escola que afirma não ter bullying ou não sabe o que é ou está negando sua existência", diz o médico pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), que estuda o problema há nove anos.
Segundo o médico, o papel da escola começa em admitir que é um local passível de bullying, informar professores e alunos sobre o que é e deixar claro que o estabelecimento não admitirá a prática - prevenir é o melhor remédio. O papel dos professores também é fundamental. "Há uma série de atividades que podem ser feitas em sala de aula para falar desse problema com os alunos. Pode ser tema de redação, de pesquisa, teatro etc. É só usar a criatividade para tratar do assunto", diz.
O papel do professor também passa por identificar os atores do bullying - agressores e vítimas. "O agressor não é assim apenas na escola. Normalmente ele tem uma relação familiar onde tudo se revolve pela violência verbal ou física e ele reproduz o que vê no ambiente escolar", explica o especialista. Já a vítima costuma ser uma criança com baixa autoestima e retraída tanto na escola quanto no lar. "Por essas características, é difícil esse jovem conseguir reagir", afirma Lauro. Aí é que entra a questão da repetição no bullying, pois se o aluno reage, a tendência é que a provocação cesse.
Claro que não se pode banir as brincadeiras entre colegas no ambiente escolar. O que a escola precisa é distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. "Isso não é tão difícil como parece. Basta que o professor se coloque no lugar da vítima. O apelido é engraçado? Mas como eu me sentiria se fosse chamado assim?", orienta o médico. Ao perceber o bullying, o professor deve corrigir o aluno. E em casos de violência física, a escola deve tomar as medidas devidas, sempre envolvendo os pais.
O médico pediatra lembra que só a escola não consegue resolver o problema, mas é normalmente nesse ambiente que se demonstram os primeiros sinais de um agressor. "A tendência é que ele seja assim por toda a vida a menos que seja tratado", diz. Uma das peças fundamentais é que este jovem tenha exemplos a seguir de pessoas que não resolvam as situações com violência - e quem melhor que o professor para isso? No entanto, o mestre não pode tomar toda a responsabilidade para si. "Bullying só se resolve com o envolvimento de toda a escola - direção, docentes e alunos - e a família", afirma o pediatra.

100 anos de vírgula


Sobre a Vírgula

(campanha dos 100 anos da ABI - Associação Brasileira de Imprensa)

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.

Não, espere.

Não espere...

Ela pode sumir com seu dinheiro.

23,4.2,34.

Pode criar heróis.

Isso só, ele resolve.

Isso só ele resolve.

Ela pode ser a solução.

Vamos perder, nada foi resolvido.

Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.

Não queremos saber.Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar.

Não tenha clemência!

Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

Onde deve ser colocada a vírgula?S

E O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO A SUA PROCURA.

* Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER...

* Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Estratégias para passar no Vestibular!



Conheça as histórias de três estudantes que podem servir de inspiração na corrida pela vaga no vestibular.
Vestibular é a conclusão de uma jornada de longo prazo. Tudo aquilo que foi aprendido durante a vida escolar será testado em uma série de provas. Por isso, a preparação para os exames exige dedicação. Dias e noites de estudo, abdicação de passeios e divertimentos fazem parte da rotina dos vestibulandos. Para servir de inspiração, o iG Educação selecionou as experiências de três estudantes que entraram de cabeça na meta de conseguir uma vaga no ensino superior.
Exemplo internacional Flávia Medina Cunha foi a única estudante brasileira a entrar no ano passado na Harvard University, uma das mais tradicionais e exigentes dos EUA. Também foi aprovada nos vestibulares da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e na Academia da Força Aérea (AFA).


Desde a infância, a dedicação ao estudo foi grande. Em casa, sempre foi estimulada a buscar conhecimento. “Na minha família todos são bem estudiosos. Meus irmãos são da Escola Naval e ambos são muito inteligentes e aplicados no estudo. Sempre os vi como um exemplo e fonte de inspiração”.


Flávia decidiu reforçar os esforços no ensino médio para atingir suas metas. Aluna do Colégio Militar do Rio de Janeiro (CMRJ), que ficou no 9º lugar no Enem entre as escolas públicas de todo o Brasil, complementou seus estudos no segundo ano com um curso preparatório para os vestibulares do Instituto Militar de Engenharia (IME) e para o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA).


No terceiro ano, as aulas no CMRJ passaram a ser em dois períodos e ela dedicava ainda em torno de 3 a 4 horas por dia de estudo em casa. Como consequência, Flávia conseguiu atingir suas metas e faz hoje o primeiro ano de Economia na instituição norte-americana.
Mais de uma opção
Começar cedo. Essa também foi a estratégia adotada por Leonardo Issa, estudante que está cursando o primeiro ano de Direito na Universidade de São Paulo (USP) e que também foi aprovado na Unesp, no vestibular 2010.


“Meus irmãos mais velhos e meus pais sempre me disseram para eu não deixar a matéria acumular, que o melhor era ir estudando sempre para que, quando chegasse a época do vestibular, eu não precisar me matar em cima dos livros”, conta o estudante, que seguiu o conselho familiar.


Issa diz que o terceiro ano do ensino médio foi realmente um período puxado de estudos, mas não deixou de aproveitar a vida por causa disso. “Eu sempre fui de me esforçar, mas desde o primeiro ano do ensino médio resolvi me dedicar mais. Acrescentei umas horas de estudo à minha rotina, mas não fiquei com a cabeça só nisso.”
Segundo ele, as saídas com os amigos e os exercícios físicos continuaram fazendo parte do seu dia. “Eu jogo futebol em categoria de base e nunca deixei de praticar por causa dos estudos. No terceiro ano, acabei tento um problema físico e não pude treinar. Usei mais tempo para estudar, mas se não fosse isso eu jogaria do mesmo jeito.”


Atrás do tempo perdido
Ser reprovado no vestibular é frustrante e ninguém quer nem pensar nessa hipótese. O estudante César Augusto dos Reis Mendes é um dos que não cogitam essa hipótese para este ano, pois acredita que já aprendeu a lição com os vestibulares que não conseguiu passar nos últimos três anos.
Cursando o ensino médio em escola estadual, Mendes fez a prova da Fuvest em 2007 para testar seus conhecimentos e viu que teria ainda de batalhar bastante para conquistar uma vaga no curso de medicina. “Eu fiz mais para saber como iria, mas sabia que não iria passar.”
Tentou novamente no ano seguinte e não passou nem mesmo para a segunda fase. Na terceira tentativa, a mesma frustração, mas percebeu que a pontuação estava ficando cada vez melhor com os esforços.


Para esse ano, Mendes promete que o resultado será diferente. “De setembro do ano passado para cá, comecei a estudar mais. Hoje passo por volta de 11 horas por dia lendo, praticando, só descanso meio período de domingo, quando saio com a minha namorada.”
Mendes faz cursinho pela manhã e à tarde estuda as matérias do dia. Até o ano passado, dividia seu tempo ainda com o trabalho, o que acabou prejudicando no vestibular. Neste ano, a dedicação ficou 100% nos livros. “Eu vi que o trabalho estava me atrapalhando e preferi parar. Não quero deixar acumular matéria e hoje só descanso quando entendo tudo. Não pretendo parar de estudar nem mesmo nas férias de julho. Vou usar esse tempo para tirar todas as dúvidas que ficarem do começo do ano.”


Os resultados já estão sendo visíveis, na opinião de Mendes. “Estou indo muito melhor nos simulados, estou entendendo até matérias em que sempre fui mal, como matemática e física. Até ajudo alguns colegas com as matérias. Se eu não conseguir passar no vestibular, pelo menos sei que estou aprendendo e que estou no caminho certo”, avalia o vestibulando.
Obs: Agradeço à coordenadora Geiza Pedrosa pelo envio dessa notícia.
Queridos vestibulandos, leiam a matéria com atenção!! Eu acredito em vocês!
;) Abraços.

domingo, 25 de abril de 2010

A Terceira Margem do Rio [Guimarães Rosa]


A Terceira margem do Rio
(Guimarães Rosa )



Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou:


— "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!"


Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber.


Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.


Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.


No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.


Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.


A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.


Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.


Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.


Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto.


Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.



Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendamos.
Estudo



1. Principais personagens
O pai, a mãe, o filho (personagem-narrador), a filha e o outro filho.
Observação: o fato de os personagens não terem nome reforça a idéia de que sua caracterização física e psicológica não é colocada em primeiro plano. O que prevalece é o referencial dos membros de uma família, uma vez que são identificados por termos como pai, mãe, etc.



2. Fatos principais
· O pai mandou fazer uma canoa.
· Disse adeus aos familiares e saiu reio afora.
· O pai percorria o rio em ponto eqüidistante das margens, indo e voltando pelas águas, mas sem sair daquele espaço próximo à sua casa.
· Parentes, amigos e conhecidos reuniram-se para tentar entender aquela atitude, fazendo cogitações sobre os possíveis motivos que o levaram a agir assim.
· O filho mais velho levava para a beira do rio um pouco de comida que pegava escondido.
· A mãe mandou chamar seu irmão para ajudar na fazenda e nos negócios.
· O tempo ia passando e o pai continua no seu percurso de ir e vir, sem aproximar-se das margens.
· A filha casou-se , teve um menino e quis mostrá-lo ao pai dela, levando-o para a beira do rio e esperando juntamente os outros familiares.
· A família chamou e esperou; o pai não apareceu e todos choraram.
· A filha mudou-se com o marido e o filho.
· O irmão mais novo resolveu ir para a cidade.
· A mãe, envelhecida, foi residir com a filha.
· O filho envelhecera e sofria os primeiros problemas da velhice.
· O filho foi para a beira do rio e acenou com um lenço.
· Avistou o pai e chamou por ele, propondo tomar o seu lgar na canoa.
· O pai ouviu, ficou de pé e fez um aceno, concordando.
· Ele fez a canoa rumar para o local onde estava o filho.
· Quando o filho viu o pai se aproximar, apavorou-se e correu dali.
· O filho adoeceu.
3. Clímax
O clímax do conto concentra toda a carga emocional que vai se acumulando ao longo da narrativa; é o momento que o pai, depois de tantos e tantos anos, faz um aceno para o filho quando ele se propõe a tomar seu lugar na canoa. Durante toda a história, todos esperavam qualquer comunicação com o pai, o que nunca ocorreu até esse momento específico da seqüência narrativa.



4. O desfecho
O desfecho é profundamente triste: o filho corre do pai e, conseqüentemente, dos sofrimentos que teria de passar, caso tomasse seu lugar na canoa. Essa atitude traz ao personagem um sentimento de culpa e de completo fracasso. Resta-lhe somente a experiência da morte iminente.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

LIVROS LITERÁRIOS DO VESTIBULAR


UFG 2010/2
1,BRITO, Ronaldo Correia de. Livro dos homens. Cosac & Naify.
2. DIAS, Gonçalves. I-Juca Pirama. L&PM.
3. GALERA, Daniel. Mãos de cavalo. Cia das Letras.
4. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Diversas editoras.
5. ALENCAR, José de. O demônio familiar. Diversas Editoras.
6. ARAÚJO, Luís. Minigrafias. Cânone editorial.
UEG
1. ANDRADE, Carlos Drummond (e outros). Elenco de Cronistas Modernos2. PRADO, Adélia. Bagagem3. AZEVEDO, Álvares. Noite na Taverna4. BARRETO, Lima. Os bruzundangas 5. ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó6. JORGE, Miguel. Ah, Shakespeare, que falta você me faz

PUC-GO
Nome - Arnaldo AntunesTratado geral das grandezas do ínfimo - Manoel BarrosO amor se esquece de começar - Fabrício CarpinejarO último voo do flamingo – Mia CoutoLisbela e o Prisioneiro - Lins OsmarCaminho das pedras - Divina PaivaCinzas da paixão e outras histórias - Maria Aparecida Rodrigues